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EUA, China e outros países fazem ofensiva inédita para derrubar preços do petróleo

O presidente dos EUA, Joe Biden, informou hoje que ordenou a liberação de 50 milhões de barris de petróleo das reservas estratégicas do país

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Em uma aliança inédita, os Estados Unidos e outros países, entre eles a China, farão uso de suas reservas estratégicas de petróleo para tentar provocar uma queda nos preços desta commodity —anunciou a Casa Branca nesta terça-feira (23). 

O presidente Joe Biden informou hoje que ordenou a liberação de 50 milhões de barris de petróleo das reservas estratégicas dos Estados Unidos. Trata-se de quase 60% do que o mundo consome em um único dia.

Esta decisão será tomada em paralelo com outras nações que têm um consumo importante de energia, como China, Índia, Japão, República da Coreia e Reino Unido.

Casa Branca

Diante dos rumores desta operação coordenada, os preços chegaram a cair cerca de 10% nos últimos dias. 

Na manhã desta terça-feira, porém, o mercado quase não reagiu. Às 10h, a cotação do petróleo WTI, dos Estados Unidos, chegou a registrar queda de 0,39%. Por volta das 15h30, porém, subia mais de 1,99%.

Nos três meses anteriores, entre 19 de agosto e 22 de novembro, o WTI havia aumentado 20,5%.

O petróleo tipo Brent também subia no mesmo horário (3,4%).

Caso o preço do petróleo caia, os reflexos poderiam ser sentidos inclusive no Brasil. Como a Petrobras adota aqui dentro preços internacionais, ligados à cotação do petróleo, a queda lá fora levaria, em tese, à redução nos combustíveis no país. Mas os preços são cotados em dólar. Assim, se o dólar subir, compensaria a queda do petróleo, e a gasolina poderia até avançar mais.

Preços da gasolina em alta

A decisão surge em um momento em que os preços nos postos de gasolina continuam subindo nos Estados Unidos e no mundo, incluindo o Brasil. Este quadro representa um grande problema político para Biden, especialmente na véspera do Dia de Ação de Graças, feriado em que os americanos se deslocam para se reunir com seus familiares.

Apresentada como inédita pelos norte-americanos, a iniciativa conjunta busca fazer os preços caírem de forma mecânica diante do aumento da oferta.

O petróleo bruto aumentou em meio à reativação econômica na esteira da suspensão das restrições pela pandemia da covid-19.

Para chegar a esse acordo, Washington e Pequim puseram sua rivalidade de lado, já que a China também é um dos maiores consumidores de petróleo do mundo.

'Cartel' de consumidores

As tentativas dos Estados Unidos de pressionar os países produtores, especialmente a Arábia Saudita, para que aumentem sua oferta até agora não funcionaram.

Louise Dickson, analista da Rystad Energy, explica que "esta ação histórica e pouco ortodoxa é claramente uma mensagem que diz à Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) que ela não é o único ator no mercado de petróleo".

A Opep é um cartel formado por um grupo de países que são grandes produtores de petróleo, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. O cartel age de forma maneira coordenada, tomando decisões sobre a oferta de petróleo para o mundo, de maneira a influenciar os preços.

"Esse esforço coordenado forma uma aliança informal do lado dos países consumidores", em resposta ao cartel dos países produtores, afirma Dickson.

Opep diz que monitora liberação de reservas

O secretário-geral da Opep, Mohammed Barkindo, disse nesta terça que o cartel tem compromisso com a garantia de um mercado de petróleo "estável e equilibrado" para produtores e consumidores e que garanta apoio à recuperação da economia global.

Ele afirmou também que a Opep monitora desdobramentos referentes à liberação das reservas estratégicas de países por alguns países.

Grandes empresas na mira de Biden

O presidente dos Estados Unidos também tem na mira as grandes empresas do setor, acusadas de transferir para os postos de gasolina apenas a alta dos preços, enquanto registram lucros gigantescos. 

Há alguns dias, a Casa Branca pediu à autoridade de concorrência que se pronuncie "imediatamente" sobre o comportamento "eventualmente ilegal" das companhias petroleiras, e não descarta ações judiciais.

As reservas americanas são o maior estoque de emergência do mundo.

Segundo um funcionário de alto escalão do governo americano, a liberação começará entre meados e final de dezembro. É possível que novas intervenções para estabilizar o mercado sejam feitas, "em resposta a uma pandemia única no século".

"Como disse o presidente, os consumidores estão sofrendo agora nos postos de gasolina", acrescentou a mesma fonte.

"O presidente está pronto para tomar ações adicionais, se necessário, e está preparado para usar toda a sua autoridade, trabalhando em coordenação com o restante do mundo para manter um abastecimento adequado, à medida que se deixa a pandemia para trás", acrescentou.

Dos 50 milhões de barris que os Estados Unidos vão liberar, 18 milhões serão vendidos diretamente nos próximos meses. Os outros 32 milhões entrarão no mercado em regime de "troca", pois serão devolvidos às reservas em alguns anos.

As reservas dos EUA estão armazenadas em locações subterrâneas nos estados de Louisiana e do Texas, com 714 milhões de barris, de acordo com um relatório divulgado pelo Departamento de Energia no final de agosto.

É bastante incomum que grandes quantidades sejam retiradas de lá, salvo em caso de urgência. É o que acontece, por exemplo, quando grandes furacões afetam o Golfo do México, crucial para a produção de petróleo, ou em resposta a crises internacionais.

Fonte: UOL