Maio é o mês das 'Marchas da Maconha'. Em Piripiri, será dia 26, com caravanas de várias cidades
Com o tema ´Maconha medicinal – a informação cura!`, evento vai receber caravanas de Barras, Pedro II, Parnaíba, Tianguá e Teresina
2018-05-06 16:24:34
Nota enviada pela organização do ato:
As marchas da maconha que ocorrerão novamente em dezenas de cidades brasileiras em sua maioria durante o mês de maio vão mais uma vez dar visibilidade ao enorme número de usuários e simpatizantes que reivindicam seus direitos. Diferente do que muitos que não se aprofundam em leituras sobre o tema pensam, o evento não faz apologia ao uso da planta Cannabis Sativa. O objetivo da marcha não é estimular o consumo de droga, mas expor uma proposta de legalização de forma pacífica em um evento social assegurado na constituição brasileira como livre manifestação de pensamento.
A Marcha da Maconha é um movimento social em defesa da legalização e regulamentação da produção, circulação, comércio e uso da maconha no Brasil. Em mais de 20 países no mundo seu uso é normal. No Brasil conseguiu-se criar um estigma sobre a planta e seus usuários. Tudo isso aconteceu devido ao processo histórico de supremacia e segregação racial aos negros. Não é a toa que hoje os mesmos correspondem à maioria dos encarcerados.
A maconha, identificada com as populações negras e suas práticas culturais, foi estigmatizada como uma planta perigosa, viciante e causadora de doenças.
Ao longo do século XX, se construiu uma representação ilusória sobre essa planta, usada amplamente há séculos como um medicamento de múltiplas utilidades, a mesma converteu-se cada vez mais um emblema das condições da marginalidade social.
A droga dos escravos se tornou uma marca identitária de populações pobres, faveladas e discriminadas. O encarceramento em massa cresceu cada vez mais se constituindo num mecanismo de segregação social e no pretexto para uma coerção e vigilância acentuadas sobre as camadas mais discriminadas socialmente. Trazida por escravos angolanos, onde a erva era utilizada amplamente, conhecida como Djamba, os negros foram remetidos à condição de “traficantes”, sendo possível observar, que a população negra e jovem até os dias atuais é a mais atingida no que se refere à violência perpetrada pela “guerra as drogas”.
A luta armada contra o tráfico não tem sido vitoriosa. A guerra às drogas fracassou. Como o poder do tráfico vem dessa ilegalidade, é preciso colocar na mesa a legalização como opção a descriminalização. Tratando como se trata o cigarro, cuja venda à menores e a publicidade são proibidas e havendo o pagamento de imposto. Esse mecanismo é utilizado na maioria dos países de primeiro mundo e o Brasil precisa seguir esse modelo. O estado é parceiro do tráfico ao criminalizar a maconha, porque é a criminalização que dá poder aos criminosos. Os danos da proibição estão muito próximos de toda a sociedade, usuários ou não. O debate maduro também precisa estar. Devido a isto Piripiri entra num rol de cidades mundiais que pedem a legalização da planta.
A Marcha enquanto movimento social aparece no Brasil desde o início dos anos 2000, mas é apenas em 2007 que ocorre o primeiro evento oficial promovido nos moldes em que o movimento se constitui hoje. Inspirados pela Million Marijuana March, os organizadores do Growroom, primeiro e maior fórum nacional de cultivo de maconha, emplacaram em 2007 a primeira edição da Marcha da Maconha, no formato que ela possui hoje, com a realização de uma passeata pacífica pela orla da zona sul do Rio de Janeiro.
Tão logo fora realizado o primeiro evento oficial da Marcha da Maconha surge a primeira oposição ao movimento: o então prior do apostolado da Opus Christi, João Carlos Costa, informou o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro sobre a passeata alegando que o movimento realizaria apologia ao consumo de drogas em locais públicos e próximos a aglomerações de crianças.
A partir de 2008, os rumos da breve história da Marcha da Maconha mudariam radicalmente. De um lado, a atuação de juízes e promotores de diferentes Estados do país destinou-se a silenciar o movimento e coibir a realização das passeatas de maio da Marcha. De outro lado, os participantes do movimento engajaram-se na luta pela possibilidade de gritar, questionar, discutir, pondo à prova uma prerrogativa essencial de um Estado Democrático: a liberdade de expressão.
Em junho de 2011, o STF decidiu por liberar as "marchas da maconha". O relator do caso, o ministro Celso de Mello, disse em seu voto que a Constituição "assegura a todos o direito de livremente externar suas posições, ainda que em franca oposição à vontade de grupos majoritários". Esse fato, a “saída do armário” de milhares de maconheiros e simpatizantes representa um movimento social de massas que cresceu nos últimos anos. De 2011 até hoje muita coisa mudou.
O uso medicinal foi reconhecido como algo não só legítimo, mas indispensável. Além do aprofundamento das pesquisas científicas, do aumento das formas de utilização medicinal, permanece em questão o direito dos cidadãos adultos poderem escolher livremente as formas de ingestão de substâncias psicoativas como uma prerrogativa central da sua autonomia e autodeterminação. Não cabe ao Estado controlar uma conduta individual quando esta não afeta a vida de terceiros, como é o caso do uso da maconha. Ou seja, um indivíduo que cause danos a si mesmo não poderia, por este motivo, sequer ser julgado.
Mas, além dos próprios interessados diretos, essa emancipação é do interesse de toda a sociedade, atingida pelos efeitos nefastos da proibição, como a violência do crime e da polícia, a corrupção, a renda clandestina, a lavagem de dinheiro ilícito, a ausência de fiscalização e controles de qualidade do Estado sobre os produtos. A sociedade precisa de paz e de cura para os agravos existentes e já comprovados com o uso da planta.
O coletivo orienta aos participantes que durante a marcha não é permitido o consumo, porte e comércio de substâncias ilícitas. O momento é apenas para suscitar a reflexão na sociedade.
Vamos debater Piripiri? A proibição mata. A maconha não!
Coletivo Marcha da Maconha Piripiri